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Um exemplo para o Brasil

12 de abril de 2017

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Reis FriedeFala-se muito que o Judiciário brasileiro é lento, ineficiente e que trabalha muito pouco, até porque seus juízes e demais funcionários cumprem jornada de meio expediente, além de terem um número ampliado de feriados durante o ano. Não há como negar a veracidade destas afirmações.

Porém, a verdade é que o problema brasileiro não se restringe (lamentavelmente) apenas ao seu deficiente Poder Judiciário. É o Brasil, como um todo, que simplesmente não funciona. Do setor público ao setor privado, nosso País parece continuar andando, – seja em luxuosas charretes, seja em humildes jegues –, em ritmo de (preguiçosas) tartarugas.

No dia 30 de dezembro de 2016, uma sexta-feira, todos os bancos fecharam. Foi a decretação de mais um feriado (informal) em nosso país. No dia 1o de janeiro, um domingo, como de praxe, era difícil achar um mero restaurante aberto no Rio de Janeiro, a principal capital turística brasileira. Enquanto isto, nos Estados Unidos, a nação mais rica do mundo, todos os bancos funcionaram normalmente durante todos os cinco dias da semana e todas as lojas, sem exceção, abriram em Orlando, uma das diversas cidades turísticas norte-americanas, embora se tratasse de um domingo e (suposto) feriado.

A triste verdade é que o ano de 2017 já começou nos EUA (assim como na maioria dos países desenvolvidos do mundo) no dia 1o de janeiro, mas no Brasil, como de praxe, somente se iniciou depois do carnaval, ou seja, no dia 6 de março. No país com o maior número de feriados do mundo (dentre os oficiais e emendados), a Firjan e a Fecomercio/SP já projetam, respectivamente, prejuízos da ordem de R$ 66,8 bilhões para a indústria e de R$ 10,5 bilhões para o comércio durante o ano de 2017.

Comparativamente, através de uma análise superficial, ambos países aparentam ser muito parecidos: o território dos EUA possui 9,3 milhões de km² (o Brasil, 8,5 milhões de km²); a população americana é de 320 milhões de habitantes (a brasileira, de 210 milhões); a primeira colônia britânica em território americano (a Virgínia) foi fundada em 1606 e, portanto, os EUA possuem 410 anos de existência (o Brasil, 516 anos); a independência estadunidense ocorreu em 1776 (a brasileira, em 1822). Mas as semelhanças terminam aqui. A economia norte-americana é (surpreendentemente) 10 vezes maior que a do Brasil (PIB de quase US$ 20 trilhões versus um PIB de US$ 1,77 trilhões) e os EUA se constituem em um país desenvolvido; ao passo que o Brasil, em uma nação (eternamente) em vias de desenvolvimento.

O segredo do (espantoso) sucesso dos Estados Unidos é simples: eles trabalham, e trabalham duro. Suas crianças são educadas para trabalhar desde os 14 anos e é muito raro existir algum adolescente no ensino médio ou jovem universitário que não trabalhe meio expediente, especialmente nas férias de verão. Situação muito diferente do Brasil, em que os filhos da classe média somente estudam (quando o fazem) e os dos pobres apenas trabalham (quando encontram empregos), sem qualquer planejamento para o futuro.

Ademais, a paixão americana não é nem o futebol e nem o carnaval. É a inovação e o empreendedorismo (ainda que também torçam por times de basebol e de futebol americano). As maiores (e mais bem sucedidas) empresas do mundo possuem DNA americano e foram, em grande parte, concebidas em fundos de quintal (Nike, Apple, Microsoft etc), sem qualquer ingerência estatal.

Aliás, a derrocada de HILLARY CLINTON frente a DONALD TRUMP deveu-se muito mais ao seu discurso estatista (encampando ideias quase bolivarianas de BERNIE SANDERS, que somente podiam ecoar em mentes muito jovens e desconectadas com o mundo real) do que propriamente a qualquer outro fator isolado, até porque o povo estadunidense sempre surfou em ondas de liberdade (e do mercado) contra as amarras e tutelas do Estado.

E quando se fala em tempo, a América, como eles gostam de se autodenominar, tem pressa. O outrora prédio mais alto do mundo, o Empire State, foi construído no início da década de 30 em apenas um ano, ao passo que no Brasil, obras (públicas e privadas) de muito menor complexidade se eternizam anos a fio e, muitas vezes, sequer se concluem, seja por corrupção ou por simples incompetência.

Dentre as principais descobertas do século XX, praticamente metade foi de responsabilidade de pessoas físicas ou de empresas americanas [ex vi: o submarino (David Bushnell, 1775); a calça jeans (Jacob Davis, 1871); o telefone (Alexander Graham Bell, 1876); a lâmpada incandescente (Thomas Edison, 1879); o tênis (U.S. Rubber, 1892); o avião (irmãos Wright, 1903); o fax (RCA, 1924); a energia nuclear (Chicago Pile-1, 1942); as armas atômicas (Manhattan Project, 1942); o relógio atômico (National Bureau of Standards, 1948); o relógio de pulso eletrônico (Hamilton, 1957); a fotocópia (Xerox, 1959); a internet (ARPANET, 1969); o Sistema de Posicionamento Global (GPS) (Global Positioning System, Governo dos EUA, 1973), o telefone celular (Motorola, 1973); e a impressora 3D (Chuck Hull, 3D Systems Corporation, 1984) etc]. E mesmo quando a invenção não foi de autêntica origem estadunidense [pólvora (China, século IX); automóvel (Alemanha, 1886); rádio (Reino Unido, 1896); televisão (Reino Unido, 1926) etc], a aplicação industrial foi determinada por técnica (ou tecnologia) genuinamente ianque.

No final do século XIX, a produção de petróleo norte-americana (representando metade da produção mundial, algo em torno de dois milhões de barris/dia) já era (incrivelmente) equivalente à atual produção de petróleo brasileiro (quase 120 anos depois), sendo certo que os EUA continuam ostentando, até hoje, a posição de maior produtor de petróleo do mundo (com uma produção de aproximadamente 11,6 milhões de barris/dia, ou 13.2% da produção mundial).

Muito embora o Brasil se autointitule o celeiro do mundo, a agricultura estadunidense produziu, em 2016, a hiperbólica quantidade de 385 milhões de toneladas métricas apenas de um único cereal (o milho), valor superior a toda a produção agrícola nacional, no mesmo ano, de 210 milhões de toneladas de grãos.

ALEXIS DE TOCQUEVILLE, em 1835, ao escrever sua consagrada obra “De la démocratie en Amérique”, já previa um futuro brilhante para a maior democracia do mundo, irritando seus compatriotas franceses, ao também lembrar que a revolução americana (1776) havia sido anterior à revolução francesa (1789) e fonte de inspiração da mesma.

Ainda sobre o exercício democrático, vale lembrar que a Constituição americana foi a primeira Carta Política escrita e o primeiro documento legal a assegurar os direitos inerentes à pessoa humana, incluindo o direito à autodefesa. Neste sentido, enquanto nos Estados Unidos a segunda emenda assegura que todo cidadão pode comprar uma arma e andar armado; no Brasil, o Estatuto do Desarmamento apenas permite que os bandidos possam fazê-lo. E, não obstante toda a crítica que se possa fazer sobre a violência urbana norte-americana, os principais indicadores demonstram claramente que ela é infinitas vezes menor que a brasileira. E nem há que se falar sobre a impunidade que, ao contrário dos EUA, grassa no Brasil, incluindo a (absurda e incompreensível) impossibilidade de se condenar (efetivamente) um homicida com 17 anos, 11 meses e 29 dias de idade, em contraposição à legislação norte-americana, que pune com extremo rigor os eufemisticamente chamados “menores de idade”.

E no quesito educação, as comparações podem soar grotescas, posto que, das 100 melhores universidades do mundo, quase metade é norteamericana, ao passo que não há uma única brasileira digna de constar no mencionado ranking.

Sem dúvida, estudo e trabalho árduo continuam sendo as fórmulas do sucesso não somente para os indivíduos, mas também para as nações. Torçamos, portanto, para que o Brasil não perca as suas paixões, mas também adquira novas que possam, através do necessário trabalho duro, efetivamente conduzir nosso país para a prosperidade (e para o desenvolvimento econômico e social) que seu povo tanto merece.

Que possamos, enfim, seguir um bom exemplo.