Desenvolvida pelo cineasta e escritor Marcus Faustini, a iniciativa é um modelo inovador de ação sociocultural, que promove a formação e incentiva a mobilização cidadã de jovens moradores de comunidades pacificadas. Patrocinada pela Petrobras, a Agência também premia os melhores projetos elaborados em benefício dos moradores das localidades onde ocorrem as oficinas.
Criada em 2011 pelo escritor e cineasta Marcus Vinícius Faustini, a Agência de Redes para Juventude está mudando a realidade de centenas de pessoas que vivem nas comunidades pacificadas da capital do Rio de Janeiro. No momento, a iniciativa de cunho sociocultural funciona em sete centros de apoio, localizados na Rocinha, no Borel, no Batan, na Cidade de Deus, no Cantagalo, na Providência e na Lapa, sendo o último um “ponto de encontro” para outras comunidades ocupadas, que não tenham um núcleo em sua região. A iniciativa, que une a arte às ações de responsabilidade social, oferece aos jovens dessas localidades as conexões e as ferramentas para que eles possam ir além de seu cotidiano, ampliando horizontes sem sair da própria comunidade, seu próprio território.
Patrocinada pela Petrobras, a Agência de Redes para Juventude atende jovens de 15 a 29 anos, contando com o apoio de parcerias estabelecidas com ONGs e grupos locais, que cedem o espaço para as aulas. Os alunos recebem bolsa-auxílio mensal, material didático e almoço, para que possam participar das oficinas. As aulas abrangem artes plásticas, vídeo de comunicação, formação em cultura digital, cidadania e mobilização. Ao final de dez meses, todos os participantes recebem certificados de especialização da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O que sobressai no modelo da Agência é o fato de que os alunos também desenvolvem projetos de uma atividade, ação cultural ou produto que beneficie a sua comunidade. Todos eles são apresentados em um evento realizado em cada território, ao final das jornadas. Além disso, os cinco melhores projetos de cada comunidade recebem, cada um, uma determinada quantia em dinheiro para serem desenvolvidos e implantados. “A ideia é oferecer repertórios para o jovem criar seu próprio caminho de conexões para sua vida na cidade. Ao mesmo tempo, ele é encorajado a pensar o seu próprio território como lugar de criação”, diz Faustini.
A Agência de Redes para Juventude também conta com um portal, no qual os jovens podem postar detalhes sobre seus projetos em diferentes blogs. O portal é um espaço de troca entre os jovens e profissionais – designers, jornalistas, artistas, professores –, que poderão comentar as postagens e recomendar caminhos para a execução dos projetos. No endereço eletrônico, os jovens também podem mapear o espaço físico da comunidade e iniciar um processo de demarcação do território, com a criação de um novo mapa.
Metodologia premiada, projetos idem
Até hoje, já foram realizados sessenta projetos e outros 41 estão em andamento. Somados os três ciclos de oficinas que já ocorreram, a Agência reuniu um total de 710 jovens que participaram das ações, mas o número de inscritos já ultrapassa dois mil. Os números impressionam e o trabalho foi merecedor de um importante prêmio. Em 2012, o programa foi premiado e escolhido pela Fundação Calouste Gulbenkian para ser implantado em Londres e Manchester, na Inglaterra, em parceria com People’s Palace Project (PPP), Battersea Art Centre (BAC) e Contact Theatre.
Já entre os projetos das comunidades que se destacaram estão os seguintes: Borel – Reci-Criando (cria instrumentos musicais a partir de material reciclável) e Nós Com Todos (oficinas de música e dança); Providência – Providenciando a Favor da Vida (assistência a mães de primeira viagem) e Clube da Luta (academia de artes marciais); Batan – Oi, Galera! Oficina de Cultura, Arte e Som (oficina de instrumentos musicais) e CAB – Conscientização Arte Batan (oficinas de arte, reciclagem e conscientização); Chapéu/Babilônia – Coletivo Fitando Arte (oficina de moda e decoração para mulheres) e Maneh Produções (produtora de eventos locais); Cantagalo – Boca de Lixeira (conscientização sobre reciclagem com criação de coleta seletiva) e Workshop de Dança (aulas teóricas e praticas de hip-hop); Cidade de Deus – CDD na Tela (montagem de um site audiovisual) e Conexão Vivarte (evento “mistureba” composto por artistas da CDD).
Uma pesquisa recente mostrou que 90% dos projetos contemplados das duas últimas edições continuam em pleno funcionamento. Um saldo comemorado por Faustini: “Esse número confirma que basta uma oportunidade para que esses jovens mostrem seu potencial de criação e realização”.