Dos Tribunais para os palcos

5 de dezembro de 2023

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Bem antes de começar a redigir sentenças, a magistrada capixaba Laís Durval Leite, juíza do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, já brincava desde a infância de escrever poemas e cantarolar em sua cidade natal, Vitória (ES). A paixão pela arte fez com que participasse de inúmeros espetáculos de dança e teatro na adolescência. Até que ao completar 23 anos, dividindo a atenção entre matérias do Direito e os versos cantados, a então recém juíza federal decidiu que a arte não poderia deixar de existir em sua vida, mesmo com a magistratura tendo se tornado a parte principal do seu cotidiano.

Desde então, além de diversas apresentações, ela lançou em 2018 o álbum “Menina mulher”, seu primeiro trabalho autoral. Hoje, em nova fase da vida e prestes a completar sete anos como juíza federal, ela lança agora seu segundo trabalho, que é resultado do processo de transformação e amadurecimento vivenciado por ela desde que assumiu a magistratura federal. Esse processo, segundo a cantora, compositora e magistrada, se manifesta nas composições e interpretação das canções do novo disco “Esse é pra dançar”.

Rodeada por influências do samba, da MPB e dos ritmos nordestinos, Laís Leite diz ter encontrado no forró a sua verdade como cantora, pois o estilo musical permite que faça ao mesmo tempo duas das coisas que mais gosta: soltar a voz e dançar. O novo álbum, segundo ela, foi assim inspirado nos grandes compositores nordestinos e músicos forrozeiros, com composições autorais que surgiram no início de 2023, e que conta com diversas faixas dançantes, incluindo “valsa nordestina”.

Laís Leite afirma que mesmo diante dos estereótipos ligados à magistratura federal, encara o Direito como uma arte e não separa a rotina entre a profissão e o lazer. “Música não é só lazer e a magistratura não é só uma obrigação. Sentenciar, para mim, é tão prazeroso quanto cantar e compor”, afirma.

Entrevista com a juíza do TRF1 e cantora Laís Leite

Revista Justiça & Cidadania – Como surgiu a paixão pela música? Antes ou depois da magistratura?
Juíza Federal Laís Leite – Nem sei dizer quando me apaixonei pela música. Ela sempre esteve presente na minha vida, mas acho que começou pela dança, quando eu tinha uns três anos de idade.

JC – De onde vem a inspiração para cantar e compor?
LL – Comecei a escrever poesias e me identifiquei como cantora mais ou menos na mesma época, com uns dez anos de idade. A composição de músicas veio mais tarde, com uns 20 anos, e a inspiração sempre veio de forma espontânea e relacionada com experiências vividas em cada fase da minha vida.

JC – Como a senhora concilia a magistratura com a música?
LL – A carreira de juíza federal, obviamente, é a que toma mais parte do meu tempo, porque a escolhi como profissão, mas apesar dos estereótipos ligados à magistratura, sempre a levei de forma leve, porque o Direito, para mim, também é uma arte. O Direito se torna cansativo e monótono quando tentamos acreditar que se trata apenas de técnica e memorização de leis e jurisprudência. Então, não existe uma agenda que separa a minha rotina entre profissão e lazer. Música não é só lazer e a magistratura não é só uma obrigação. Sentenciar, para mim, é tão prazeroso quanto cantar e compor. Tudo está ligado à interpretação, e por isso acabo vendo muitas semelhanças.

JC – Quais?
LL – Julgar um processo é interpretar os fatos e o Direito aplicável ao caso dos autos. A criação e a execução de uma música também estão diretamente ligadas à interpretação. Acredito que a música me auxilia a interpretar melhor o Direito e os fatos de um processo.

JC – Como foi o processo de criação desse novo disco? O que o público pode esperar?
LL – As composições vêm espontaneamente, não sei explicar como acontece. De repente pego o violão e vem uma vontade de cantar algo que surge na minha cabeça. O processo de gravação é cansativo e dediquei minhas férias totalmente a isso. Na verdade, todo meu tempo livre do ano de 2023 foi dedicado à produção desse material. Eu não conseguiria fazer isso sempre.

JC – Quais são seus planos para o futuro musical e profissional?
LL – Estou bem feliz porque consegui finalizar a produção de um material musical capaz de mostrar que a música é algo sério na minha vida, e não apenas um hobby. Não é algo que faço, é algo que sou. Quanto à magistratura, estou muito feliz pelo que promovi neste ano de 2023 e bastante realizada. Pretendo continuar desenvolvendo projetos criativos para melhorar a prestação jurisdicional e cada vez mais aprimorar minha capacitação técnica, num processo de evolução que não tem fim. Vou completar sete anos de magistratura em janeiro de 2024 e a motivação para dar o meu melhor permanece a mesma de quando entrei.