Em 2022, há razões para ser otimista

17 de janeiro de 2022

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Ser otimista não significa ignorar os problemas. Sem dúvida, o ano que ora se inicia será ainda extremamente difícil e desafiador em consequência da crise econômica mundial que, durante 2020 e 2021, foi agravada pela pandemia de covid-19. Há uma série de fatores que poderão tornar nossas vidas mais difíceis, como os crescentes custos dos alimentos e da energia elétrica, no bojo de uma crise climática planetária, além da escalada dos preços dos combustíveis e dos riscos associados às incertezas – que envolvem os efeitos do aumento dos juros, do fim dos estímulos fiscais, das oscilações no ambiente externo e, é claro, das eleições. 

Com a inflação em alta e a geração de postos de trabalho insuficiente, será ainda um ano de muitas dificuldades para a grande maioria dos brasileiros. A fome e miséria extrema, que voltaram a ser visíveis à olho nu em todo o País, são flagelos cuja superação exigirá sacrifícios e esforços solidários de toda a sociedade.

Há no entanto algum alento no horizonte. Cenários futuros são construídos por meio de sinais fortes e fracos do presente, e embora nosso presente esteja tão cheio de incertezas e fatores de risco, é possível pontuar alguns sinais positivos de senso comum adiante. 

Em relação à pandemia, por exemplo, sabemos que o mundo hoje está melhor preparado para enfrentar o surgimento de eventuais variantes e mesmo de novos vírus. A descoberta precoce da variante omnicron só ocorreu porque, a exemplo de outros países, a África do Sul fez pesados investimentos em tecnologias de sequenciamento de genoma, o que nos coloca numa posição muito melhor para o desenvolvimento de novas vacinas e tratamentos do que estávamos no início de 2020. O maior conhecimento sobre as formas de propagação dos vírus e as consequentes mudanças nos hábitos da maioria das pessoas também nos favorecem nesse sentido. 

Em meio a esses legados pandêmicos de senso comum, é interessante observar que existe um legado sutil, que acontece nas entrelinhas, um despertar em massa para o senso coletivo numa magnitude nunca antes vivenciadas pelas atuais gerações, que é fruto do maior acesso à informação pela via da tecnologia e do tempo livre que tivemos, entre restrições de circulação e quarentenas, para exercitar a consciência social e ambiental. E como cada consciência produz uma visão diferente, teremos muitas formas de viver esse legado sutil. 

Com esse desabrochar da consciência, que acaba se concretizando em ação, mais e mais pessoas terão a oportunidade de furar suas bolhas para passar a ver o mundo como um território de infinitas possibilidades. Desejando viver de acordo com suas verdades e não apenas existir num sistema de coisas nas quais não enxergam sentido, muitos são os que estarão dispostos a exercitar a capacidade de ouvir e colaborar criativamente, ao invés de simplesmente competir.

Mais do que prever o futuro ou apenas ser otimista, em 2022 teremos a oportunidade de, como Nação, definir mais uma vez o rumo que queremos seguir. Podemos seguir pelo caminho do desprezo à proteção ambiental, do sucateamento das instituições e do abandono da civilidade, ou retomar o norte do desenvolvimento econômico com respeito ao meio ambiente e à dignidade humana.

É claro que há muitos mundos dentro do mesmo mundo, pois compartilhamos o mesmo espaço, mas não necessariamente o mesmo tempo, o que faz com que as mudanças ocorram em camadas. O fundamental é que saibamos, em proporção crescente, utilizar com sabedoria o que aprendemos durante esses tempos difíceis para promover o bem comum e reconstruir a confiança uns nos outros. Pois já sabemos o quanto a desconfiança – seja ela em relação aos governos, às instituições ou àqueles que simplesmente pensam de forma diferente – pode nos atrapalhar a superar os próximos grandes desafios coletivos, como evitar as calamidades climáticas ou prevenir a próxima pandemia.

Podemos assim lembrar de um sábio provérbio oriental: “Homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram homens fracos, mas homens fracos criam tempos difíceis e tempos difíceis geram homens fortes”.