Mesmo erro, velhos argumentos

5 de abril de 2005

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É inadmissível que não tenhamos aprendido nada com a repetição dos desastres produzidos no Brasil nas duas últimas décadas do século passado quando deixamos de dar suporte ao setor exportador. Estamos incorrendo nos mesmos equívocos das políticas de câmbio de 1986/1992/1994, esquecendo as dramáticas conseqüências da valorização cambial não apenas para a balança comercial, mas principalmente para a continuidade do crescimento econômico e do emprego. Foi a reação das exportações brasileiras a partir da desvalorização cambial de 1999, que reduziu a vulnerabilidade externa e permitiu esse início de retomada do desenvolvimento e da oferta de emprego em 2004.

Esta recuperação esta sendo lentamente solapada enquanto o governo se recusa a admitir o erro, apesar dos sinais de desânimo emitidos pelo setor exportador. E utiliza os mesmos argumentos que no passado nos levam ao desastre: “a taxa de câmbio está correta porque continuamos com saldo comercial e até aumentamos nossa participação no comércio mundial”.

É evidente que não existe reação instantânea entre o valor das exportações e a taxa de câmbio, mas o que não se percebe é que a valorização exagerada do real vai corroendo a taxa de crescimento físico das exportações. Mais grave, já está produzindo uma lenta devastação no ânimo dos empreendedores, desestimulando o ingresso de novos exportadores, principalmente os pequenos que têm menos capacidade de colocar em risco o capital inicial que as exportações envolvem.

O dinamismo exportador só se sustenta quando há o ingresso continuado de novas empresas e empresários. A experiência mundial – e também a brasileira – mostra que o volume da exportação (não o valor, que depende dos preços) está ligado ao crescimento constante de empreendedores que diversificam não apenas a natureza do produto exportado mas também o seu destino.

É igualmente demonstrável a correlação que existe entre as exportações em anos sucessivos: tudo se passa como se as exportações de 2005 fossem determinadas pelas de 2004, o que mostra as estreitas ligações entre elas, produzidas pelos contratos, pelos hábitos e pelo conhecimento do parceiro externo e sua confiança nos suprimentos. É um encadeamento que não pode ser interrompido.

Depois das enormes trombadas que o Brasil levou com os congelamentos do câmbio nos planos Cruzado e Collor e com a sobrevalorização nos quatro primeiros anos do plano Real que resultou na enorme dívida e no aumento da vulnerabilidade externa, é realmente inadmissível repetir a dose. Não podemos nos enganar: estamos no alto do tobogã e o piso lá embaixo não é dos melhores. Não consigo acreditar que o governo vai esperar o final da queda para então reagir.

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