Ministro Carlos Ayres Britto

5 de maio de 2005

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…ele é gente.

Deus o fez Juiz para que como Ele julgasse os homens e suas coisas. O fez poeta para engrandecer e dar sentido alto às palavras com a imensidão dos mares, a luminosidade do sol e a mansidão da lua.

Tive o privilégio de conhecê-lo e ouvi-lo. Ele é puro, sensato e verdadeiro; é um sonhador que sonha acordado. É um letrista dos bons; é um poeta perfeito.

Seus poemas são de um primor de enlevamento, tanto quando fala com Deus, ou quando fala dos pássaros, das borboletas, da natureza, do sorriso do guri, da chuva, do sol, da lua, do menino de rua, do pobre, do seu paraíso, de sua mãe D. Dalva, da família, do desabafo contra a fome, é enternecedor quando fala de si próprio, mas, também, é irônico, mordaz quando trata dos políticos e corruptos.

Escolhemos de suas obras “Varal de Borboletas” e “A Pele do Ar” algumas pérolas, que transcrevemos para gáudio dos leitores.

 

Família

O Papa não conhece minha mãe,

Não conhece minha mulher.

Nem o Papa nem BillClinton

E muito menos Julia Roberts

Ou Pelé

Nenhum místico famoso,

Nenhum governante mundial,

Nenhum artista vip

Jamais ouviu falar dos meus filhos,

Do meu pai,

Da Minha gente.

– Eles não sabem o que estão perdendo.

 

Confissão

Como te dizer que o meu coração

Já faz parte dos teus pertences?

Que te amar faz parte dos meus legados?

Que este poema é a voz de minha alma,

Quando a minha alma fica de joelhos

Para entoar a prece do teu nome?

Como te dizer, sem repetir,

Que te amo,

Te amo,

Te amo!

 

Colchão

Debaixo do meu colchão

Não tenho nada.

Dinheiro,

Ações,

Títulos de crédito,

Pra quê?

Em cima do meu colchão

É que tenho tudo,

Porque tenho você.

 

Cinema e Pipoca

Não! Eu não tenho saudade

Da pipoca do cinema!

Eu tenho saudade é de nós dois

A comer pipoca no cinema.

Porque sem nós dois a comer pipoca

No cinema,

Que graça tem o cinema?

Que gosto tem a pipoca?

 

Desabafo

Inutilidade que mais revolta,

O desuso que eu menos aceito,

A frustração maior

que já vi nesta vida

É da panela que não vai ao fogo,

Do prato que não chega à mesa,

Do garfo que não sobe à boca,

Por falta de comida.

 

Paraíso

Haverá no céu um paraíso?

Um lugar on os homens deixem

De andar a esmo?

 

Eu por via das dúvidas,

Vou construindo o meu

Por aqui mesmo.