Edição 37
O Rio Paraíba do Sul pede socorro
5 de agosto de 2003
Eduardo Meohas Prefeito de Resende e presidente do CEIVAP, Comitê para a Integração da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul
Os moradores da região metropolitana do Rio de Janeiro estão muito próximos de viver uma surpresa desagradável quando abrirem suas torneiras. Com apenas 10% do volume útil de armazenamento, a Represa do Funil em Resende atingiu um dos momentos mais preocupantes da última década. Em conseqüência o Rio Paraíba do Sul, responsável por mais de 80% do volume de água consumido na região metropolitana, corre o Sul do Estado muito abaixo do seu nível normal, já colocando em risco 0 abastecimento de cidades como Volta Redonda, Barra Mansa e Barra do Piraí.
O problema não se limita apenas a Represa do Funil. Outros três reservatórios em território paulista (paraibuna, Santa Branca e Jaguari) que operam interligados a represa fluminense tem registrado queda por sete anos consecutivos. Caso este sistema alcance níveis inferiores aos atuais haveria o risco de perdermos toda a capacidade de regulação das vazões dos rios, ficando o abastecimento de água em praticamente todo o Estado do Rio à mercê da ocorrência de chuvas.
Como se já não bastasse o baixíssimo volume de água disponível, o Rio Paraíba do Sul carrega consigo um problema adicional. Sem a vazão adequada para a diluição dos poluentes lançados pelas cidades e industrias do Sul de Estado, a qualidade da água atinge limites quase impeditivos para o tratamento, exigindo das distribuidoras pesados gastos para torná-la adequada ao consumo humano. Para se ter uma idéia da dimensão do problema, a empresa de abastecimento de água de Resende, uma das cidades menos prejudicadas em função da proximidade da Represa do Funil, já dobrou as despesas com produtos químicos para garantir a mesma qualidade da água ofertada a população.
Diante deste quadro estrutural de crise de abastecimento e das previsões de estiagem para os meses de agosto a outubro, a Agencia Nacional de Águas esta reduzindo de 250 m3/s para 190 m3/s e mais 10 m3/s sucessivamente pelos próximos três meses a contribuição do já combalido Paraíba do Sul ao sistema Guandu em uma tentativa tímida de preservar o primeiro e de garantir as condições mínimas de abastecimento da região metropolitana. Ocorre que, permanecendo os mesmos níveis de contribuição ao Guandu e precipitação pluviométrica, as represas podem literalmente secar em meados de outubro. Caso esta situação extrema se confirme, não haverá com o que contribuir para o sistema Guandu, ficando, portanto, a região metropolitana do Rio privada de 80% do volume de água disponível para o seu abastecimento. Ou seja, este é o momento para que seja discutida a vazão ideal de contribuição do Rio Paraíba, até porque, em outubro, pode não haver mais o que se discutir.
O problema hoje é agravado pelas contribuições provenientes dos Rios Poços e Ypiranga ao Guandu que trazem consigo a poluição de esgotos e industrias da Baixada Fluminense, provocando a proliferação de algas que podem até inviabilizar o tratamento da água. Por incrível que pareça, com todos os seus problemas, o Rio Paraíba do Sul é o responsável! pela diluição destas contribuições dos Rios dos Poços e Ypiranga, na medida que amplia o volume de água e aumenta a diluição dos poluentes.
Um problema desta complexidade e abrangência teria somente uma solução fácil: muita chuva! Mas como não se pode contar apenas com a sorte, é preciso propor soluções de curto e médio prazo para equacionar o problema ou, na pior das hipóteses diminuir ao máximo o impacto da crise de abastecimento na população. De maneira emergencial, cabe a Agencia Nacional de Águas, preservar ao máximo a fonte principal de abastecimento do Estado, no caso o Rio Paraíba do Sul. A vazão de contribuição ao Guandu prevista para os próximos meses ainda é bastante elevada, podendo diminuir se acompanhada de uma campanha de conscientização para a racionalização do uso da água. Neste caso, a mensagem precisaria ser muito clara: racionalizar para não racionar!
Paralelamente, mas com prazos para resultados mais distantes é preciso que os governos federal e estadual realizem as obras adiadas por uma década de desvio dos Rios dos Poços e Ypiranga, que deveriam desaguar após o ponto de captação do sistema Guandu. Esta medida, diminuiria a carga de poluentes a serem diluídos e permitiria a Cedae economizar boa parte dos R$ 7 milhões mensais gastos com o tratamento da água oferecida a região metropolitana.
Outra ação de médio prazo indicada e construção de uma adutora para atender as empresas sediadas na Baia de Sepetiba. Esta medida permitiria resolver o problema de salinização da água consumida na região, que vem exigindo um investimento crescente em tratamento no trecho final do Rio Guandu.
Diante deste quadro de problemas e da necessidade concreta de investimentos, a cobrança pelo uso da água iniciada pelo Ceivap na Bacia do Paraíba do Sul precisa ser estendida a região metropolitana do Rio de Janeiro. Esta é uma garantia que estarão disponíveis os recursos necessários a recuperação das águas e do sistema de abastecimento das bacias Paraíba do Sul e do Guandu.
Espero, sinceramente, que a recente crise de energia, ainda esteja muito presente na memória dos nossos dirigentes para que não sejamos “pegos-de-surpresa” mais uma vez.