Edição 13
Centro Cultural da Justiça Federal – Restauração da memória do Poder judiciário e da própria República
5 de março de 2001
O conjunto arquitetônico do corredor cultural do Rio de Janeiro está enriquecido com a restauração da antiga sede do Supremo Tribunal Federal. Ao lado do Museu Nacional de Belas Artes, da Biblioteca Nacional, do palácio Pedro Ernesto (Câmara dos Vereadores) e do Teatro Municipal, ali reunidos, formam, sem dúvida, a memória de nossa República.
Em dezembro do ano passado, o desembargador Alberto Nogueira, Presidente do Tribunal Regional Federal da 2ª Regiao apresentou as obras de restauraçao do predio que agora abrigará o Centro Cultural do Poder Judiciario Nacional. Naquela oportunidade, o presidente do STF, Ministro Carlos Velloso disse Que “esta restauraçao e muito importante para a vida da Republica brasileira. Este e um momento de agradecimento a todos que colaboraram para a restauraçao dessa memoria”. O desembargador Alberto Nogueira ressaltou que a obra representa a restauraçao da memoria do Poder Judiciario e da propria Republica. “o Judiciario nacional aqui iniciou, em 1909, a sua sagrada missao de realizar a Justiça atraves dos magistrados, juizes e ministros, com o auxílio dos servidores, ao lado das instituiçoes que completam o tripe da Justiça brasileira”, disse o Presidente do TRF/2ª Regiao.
A obra de restauração
A obra de restauraçao e ampliaçao do Palacio da Justiça Federal, que se constitui no maior projeto de restauraçao da America Latina, foi iniciada em 1994 depois de um convenio firmado entre o TRF/2ª Regiao, a Caixa Economica Federal e o Instituto Herbert Levy e teve o seu custo estimado em 12 milhoes de reais.
Foi na gestao do entao Juiz Federal, hoje desembargador Ricardo Regueira, que era o Diretor do Foro da Seçao Judiciaria do Rio de Janeiro (1989/91) Que se elaborou o projeto de reutilizaçao do predio como espaço cultural. Posteriormente, celebrou-se o convenio com o Tribunal Regional Federal da 2ª Regiao, cujo Presidente era a desembargadora Julieta Lunz, o Instituto Herbert Levy e a Caixa Economica Federal.
Formada a equipe e localizadas as plantas originais, efetuou-se detalhado levantamento fotografico que durou 6 meses. Os trabalhos de restauraçao foram divididos em etapas ate que em 1998, a entao Presidente do TRF/2ª Regiao, Desembargadora Tania Heine, inaugurou a sala de sessao apos a elaboraçao dos trabalhos em boa parte dos seus detalhes decorativos.
Em 1999, a obra paralizou por falta de verbas. O montante previsto ja havia sido ultrapassado na realizaçao de obras que nao estavam no projeto, mas no 10 semestre do ano passado, as obras foram reiniciadas graças a pronta intervençao do atual Presidente do Tribunal, Desembargador Alberto Nogueira que designou o Diretor do Foro, Dr. Sergio Schwaitzer para iniciar negociaçoes com a Caixa Economica Federal que prontamente renovou o convenio Iiberando verbas para a conclusao da restauraçao do predio que abrigara o Centro Cultural da Justiça Federal, com inauguraçao no dia 04 de abril.
Histórico
O STF foi criado com a ediçao do decreto n° 848, de 11 de outubro de 1890 e sua competencia, bem como o numero de seus ministros foram fixados na Constituiçao promulgada em 24.02.1891. Por determinaçao do art. 10 do decreta n° 1, de 26 de fevereiro, as 13 horas, em sessao extraordinaria, reunia-se pela primeira vez aquele Tribunal no antigo predio da Relaçao, na rua do Lavradio.
Tal predio, no entanto, nao possuia as minimas condiçoes para funcionamento da recem-criada Corte. Conta-nos Leda Boechat Rodrigues (in Historia do Supremo Tribunal Federal, vol. I, pag. 8, 2a ediçao, ed. Brasileira), Que na sessao de 13 de junho o Visconde de Sabara, o mais idoso dos Ministros, propunha que se representasse ao Governo quanto a “necessidade de instalar-se o Tribunal em outro edificio decente e comodo, onde privativa e exclusivamente pudesse trabalhar”.
No ano seguinte, e ate agosto de 1895, o Supremo Tribunal Federal iria reunir-se em outro local, em que ja funcionava a Corte de Apelaçao na rua do Passeio, enquanto se preparava o predio da rua do Lavradio para que se pudesse funcionar em salas separadas o STF, a Corte de Apelaçao, bem como as respectivas secretarias.
Em novembro de 1902, muda-se novamente a sede do Supremo, desta feita para a Rua 10 de março n° 26, 10 andar. A edificaçao havia sido erigida com o intuito de abrigar agencia bancaria, o que nao ocorrera, vindo o Supremo a dividi-Ia com outras instituiçoes.
Para se mensurar a precariedade da antiga sede da rua do Lavradio, destaca-se o seguinte trecho do discurso do Presidente Aquino e Castro na sessao de 4 de novembro: ” instalaçao do Supremo Tribunal Federal no vasto e suntuoso edificio em que nos achamos agora reunidos e mais uma prova do interesse e particular atençao com que trata o Governo do serviço da administraçao da justiça e da consideraçao que e devida a majestade da lei, representada pelos seus executores. Esta o Tribunal em uma acomodaçao condigna a elevaçao de suas nobres funçoes e com prazer sao tributados aos Poderes Publicos bem merecidos louvores pelo importante melhoramento que acaba de ser realizado” (Atas 1902-1904/4).
Entretanto, apesar da evidente melhora, o Supremo Tribunal Federal ainda nao estava instalado em local adequado. Coube ao Ministro da Justiça e Negocios Interiores do governo de Affonso Pena, buscar uma nova sede para o STF, se possivel na recem-inaugurada Av. Central.
Apos intensas negociaçoes, foi adquirido o predio inicialmente previsto para ser a Mitra Arquiepiscopal, que se encontrava em adiantada fase de construçao. O projeto original, de Adolpho Morales de Los Rios, arquiteto espanhol de destaque que ja havia elaborado 21 projetos para a ja referida Av.Central, sofreu modificaçoes a partir do 3° pavimento, descaracterizando a fachada religiosa que ganhou caracteristicas mais marcantes do Renascimento frances, com acrescimos de dois torreoes, no local onde estava prevista a execuçao de dois mirantes.
Internamente, as modificaçoes foram ainda mais sensiveis. Varios ambientes foram divididos para alocar secretarias e o jardim interno cedeu lugar a construçao de um novo espaço que viria a ser aproveitado para abrigar a sala de sessoes no 2° pavimento; os sanitarios foram redimensionados para atender ao uso publico; foi instalado um elevador privativo no local onde estava prevista a construçao de uma escada na lateral esquerda, e um outro, de uso geral, localizado na area central vizinha ao prisma de ventilaçao.
A decoraçao interna enfatizou a tematica da justiça, conforme se verifica do vitral que domina o ambiente da vasta escadaria principal e das pinturas e vitrais ainda hoje presentes na sala de sessoes.
No dia 03 de abril de 1909, sob a Presidencia de Pindaíba de Matos, com a presença do Ministro da Justiça e outras autoridades convidadas, passou o Tribunal a funcionar no predio da Avenida Central, nele permanecendo ate a transferencia do Distrito Federal para Brasilia, em 1960.
Cedido o predio para instalar o Tribunal de AIçada, apenas na decada de setenta retornou a Administraçao Federal, quando passou a abrigar a Justiça Federal.
Desde sua inauguraçao, inumeras modificaçoes foram realizadas, com a construçao de novos pavimentos e redivisoes internas, sempre com intuito de melhor atender a sua finalidade. Com o decorrer das decadas, inumeras caracteristicas foram alteradas ou escondidas em camadas de tinta, mas a imponencia e distinçao foi preservada.
Com a restauraçao, o predio retornara gradativamente ao esplendor original e integrara, juntamente com a Biblioteca Nacinal, o Museu Nacional de Belas Artes e o Teatro Municipal, o Corredor Cultural, abrigando inumeras salas de exposiçao, um teatro de bolso, com aproximadamente 150 lugares, uma sala de projeçao, alem de um restaurante e cafe. A comunidade jurídica tera, enfim, um espaço naquele Corredor Cultural onde sera dada prioridade a divulgaçao de suas atividades, sem se olvidar das demais.
Depoimento sobre a restauração
Parecia um sonho impossível! Resgatar o esplendor da antiga sede do Supremo Tribunal Federal, um dos principais edificios do inicio da remodelaçao do centro da cidade e da abertura da Avenida Central, que marcou a administraçao do engenheiro Pereira Passos!
A nobre edificaçao, situada na atual Av.Rio Branco n° 241, fora interditada pela defesa civil, em junho de 1988, apos o desabamento parcial do teto de duas das salas do 1° piso, e a descoberta de que quase a totalidade dos barrotes estava deteriorada pela açao imperceptivel, porem inclemente, dos cupins.
Durante a gestao do entao Juiz Federal Dr. Ricardo Regueira na direçao do Foro da Senao Judiciaria do Rio de Janeiro (1989/ 1991), foi elaborado projeto de reutilizaçao do predio como espaço cultural. No entanto, apenas nos idos de 1994 pode-se dar inicio a recuperaçao do local que habitava a memoria de todos os membros do Tribunal, ante a dificuldade de obtençao de patrocinio, bem como de encontrar profissionais que se desincumbissem a contento do quixotesco trabalho.
Foi por mero acaso que dois representantes da CEF encontraram aquele que viria a ser o coordenador-geral da obra, o Dr. Jose Carlos Barboza de Oliveira, do Instituto Herbert Levy, quando este palestrava sobre restauraçao de predios historicos.
Apos uma primeira visita, o Dr. Jose Carlos Barboza convidou diversos especialistas no ramo que, junto com ele, concluiram pela viabilidade da recuperaçao, apesar do aparente estado precario do predio. Naquela oportunidade foi detectado que, com inumeras outras construçoes do inicio do seculo, a antiga casa de Justiça havia sido abalada com a gradual modificaçao do centro da cidade.
O predio sofria com o aumento crescente do trafego, tanto na Av. Rio Branco quanto na rua Mexico, que surgiu apos a sua construçao e com o desmonte do morro do Castelo. As obras do metro, somadas a construçao de edificaçoes modernas, haviam pro vocado um rebaixamento do lençol freatico abalando a estrutura confeccionada segundo tecnicas adotadas a epoca da construçao, em 1905.
Apesar de existirem inumeros vestigios de tentativas malogradas para se solucionar o problema, como amarraçoes de suas paredes com lajes de concreto e vigas metalicas, alem de outras medidas emergenciais, estava a edificaçao, no dizer do Dr. Jose Carlos Barboza, “abrindo-se aos poucos, como uma cebola”, o que propiciou a açao nociva dos cupins e veio a ensejar a sua posterior interdiçao.
O trabalho exigiria extrema dedicaçao e desvelo, que vieram a ser testados inumeras vezes no decorrer dos anos. O primeiro passo foi a celebraçao do convenio com o Tribunal Regional Federal da 2ª Regiao, representado por sua Presidente, a Desembargadora Federal Dra Julieta Lidia Lunz, o IHL, representado por seu Presidente, Dr. Herbert Levy e a Caixa Economica Federal, representada pelo seu superintendente Dr. Ricardo Amorim. A seguir, procedeu-se a formaçao da equipe.
O projeto arquitetonico de restauraçao e adaptaçao do predio e de autoria do arquiteto Glauco Campelo, e contou com a ativa contribuiçao dos arquitetos Hermano Montenegro e Marisa Assumpçao.
Localizadas as plantas originais, que se encontravam no arquivo nacional, efetuou-se detalhado levantamento fotografico, para registro da situaçao do predio – agravada em muito apos seis anos de interdiçao. Foram, ainda, confeccionados moldes em silicone de todos os detalhes artísticos em gesso que decoravam varias de suas salas. Este trabalho exigiu aproximadamente seis meses.
A etapa seguinte contou com a orientaçao do Prof. Bruno Cantarini para reforço das fundaçoes e construçao de sistema de drenagem de controle e acompanhamento do nivel do lençol freatico. As plantas de construçao revelaram que, felizmente, o predio possuia fundaçoes profundas e de excelente qualidade de execuçao, o que possibilitava a empreitada. Apos cuidadosa remoçao de ladrilhos hidraulicos em algumas areas remanescentes, que foram em sua maio ria reaproveitados nas fases posteriores de restauro, bem como de antigos elevadores que ficavam no prisma de ventilaçao, começou-se a escavaçao do solo, com a retirada da inacreditavel quantidade de seiscentos caminhoes de terra, escavados manualmente pelo trabalho cuidadoso de aproximadamente cinquenta operarios da Construtora Wrobel, supervisionados pelo engenheiro Wilton Ribeiro.
Durante a fase de reforço das estruturas, veio a ideia de aproveitar a area escavada para criaçao de um subsolo e instalaçao das centrais necessarias a todo predio moderno, como telefonia, gerador, ar condicinado central, dentre outras exigencias para nova ocupaçao. Construiu-se, tambem, tres camarins, que dariam suporte a um teatro, o qual seria montado no pavimento terreo. Esta fase inicial consumiu mais de dois anos de arduo trabalho, com escoramento de tetos e paredes para se evitar novos desabamentos.
A escolha da laje nervurada, para substituir o madeirame estrutural, resultou de intensa pesquisa do grupo de trabalho, e de acaloradas, porem produtivas,negociaçoes com o Instituto de Patrimonio Historico Nacional. O argumento da equipe tecnica comandada pelo Dr. Jose Carlos era que, dos barrotes originais, remanesciam apenas quatro unidades, e que todos os demais ja haviam sido trocados em período anterior, justificando a substituiçao do madeiramento pela laje, muito mais eficiente e adequada a nova realidade do predio.
O referido grupo de trabalho contava com a atuaçao de representantes de tres instituiçoes, merecendo destaque a participaçao, dentre outros representantes do TRF, da arquiteta Izabela Fraga Alvim, que o integrou no inicio de sua criaçao e na ultima fase da obra.
Extrair as madeiras do assoalho do 20 pavimento constituiu verdadeiro trabalho de arte. As reguas de peroba do campo (claras), intercaladas com guarabu e canela (escuras), foram numeradas e removidas com auxilio de uma nova ferramenta concebida especial mente para ser utilizada na antiga sede do STF. Depois de tratadas, as peças foram recolocadas, mas com uma particularidade: a parte desgastada pelo tempo ficou no contrapiso, enquanto aquela que ficava voltada para baixo foi aplainada e passou a ser a face de acabamento.
A casa de maquinas dos antigos elevadores foi demolida, assim como o arremedo de cobertura, que descaracterizava a arquitetura ecletica da construçao. Outros elevadores, estes hidraulicos, foram instalados em novo local. Atras deles, concebeu-se a construçao de escada metalica de serviço, interligando o subsolo ao ultimo pavimento e ao telhado, que foi desmontado e substituido por nova estrutura – metalica – evitando a açao destrutiva dos insetos. Sobre esta estrutura, e antes do assentamento das telhas francesas, utilizou-se novissimo isolante termico e impermeavel, importado da Italia, o Isotec, que proporciona a reduçao calorica de aproximadamente 5 graus.
A estatua representativa da Justiça, da famosa fundiçao de Val D’Osne recebeu atençao de especialista para remoçao de camadas de tinta, que fez ressurgir traços de beleza Ímpar.
As balaustradas das sacadas frontais e laterais do predio tambem foram recuperadas, assim como as esquadrias. As portas internas foram decapadas, raspando-se camadas de verniz que faziam parecer pesados os delicados trabalhos de entalhe, e recolocadas em seus lugares de origem. Identico trabalho foi realizado nas portas de entrada, de auto ria do famoso entalhador Manoel Ferreira Tunes.
O vitral central representativo da Justiça, cuja autoria perdeu-se no tempo, assim como os da sala de sessao, de auto ria de F.Urban e executado pela Casa Conrado – SP e de outra sala a ela anexa, foram desmontados e restaurados pelas maos cuidadosas de profissionais da empresa Belas Artes Restauraçoes Rio.
Os elementos decorativos das paredes e da tela de Rodolfo Amoedo fixada no belíssimo teto da sala de sessoes de quase 300 m2 foram restaurados. Os ornatos em gesso grosseiramente pintados, sofreram um processo de decapagem, resgatando-se a tonalidade original e reintegrando o douramento original. O desafio de se climatizar o predio assumiu maior dimensao e complexidade naquela sala, total mente decorada, mas que foi superado com soluçao original, principalmente no que pertine ao retorno de ar, que ficou camuflado em alguns daqueles ornatos.
Em 1998, apos a elaboraçao do trabaIho em boa parte dos detalhes decorativos da sala de sessao, esta foi inaugurada pela entao Presidente do TRF, a Desembargadora Federal Dra Tania Heine.
Por ser apreciadora do complexo trabaIho de recuperaçao de predios historicos, em junho de 1999, pedi ao coordenador-geral da obra, Jose Carlos Barboza, autorizaçao para uma visita as dependencias daquele predio. Apos um primeiro momenta meramente contemplativo de tao magnifica construçao soube que a obra estava paralisada, eis que o montante inicialmente previsto ja havia sido, em muito, ultrapassado, em razao do aproveitamento das areas escavadas para criaçao do subsolo e da manutençao do 40 pavimento, inicialmente nao previstos.
Inconformada com a ideia de que o predio historico no qual tomara posse como servidora nao estava concluido por falta de verbas, requeri entrevista com o recem empossado Presidente do TRF, o Desembargador Federal Alberto Nogueira, comunicando o atual estado do mesmo. O Presidente logo demonstrou seu inconformismo e destacou o Diretor do Foro, Dr. Sergio Schwaitzer para iniciar negociaçoes junto a CEF para renovaçao do convenio e conclusao das obras. Disse-Ihe o presidente, naquela oportunidade, que era uma questao de honra concluir, em sua gestao, a recuperaçao do predio no qual trabalhara durante anos como titular da 3ª Vara Federal. Apos arduas negociaçoes, sob a batuta precisa do nosso incansavel Presidente, o convenio foi firmado e as obras retomadas no 10 semestre de 2000.
Em nova parceria, 1 a Instancia e TRF acompanharam o desenrolar das obras, ficando o Diretor do Foro incumbido de representar aquele Tribunal nas tomadas de decisoes para cumprimento do cronograma estipulado, sempre que nao importasse em onus para este. A partir dar, minha rotina passou a estar permanentemente vinculada ao desenvolvimento dos trabalhos de recuperaçao do predio, proporcionando-me momentos de euforia e outros de desanimo.
A claraboia, uma inovaçao autorizada pelo IPHAN que permitiria a entrada de claridade no predio, como previsto no projeto de construçao, ao mesmo tempo em que nao inviabilizava a sua climatizaçao foi finalmente concluida.
A escadaria de ferro fundido e marmore de carrara foi recuperada, removendo-se camad as de tinta que retirava parte do esplendor de seus ornatos e recompondo partes do marmore que estavam deterioradas.
O teatro localizado no pavimento terreo tomou forma com a construçao da estrutura metalica que formaria a plateia. O projeto do palco e do cenografo Prof. Jose Dias e o projeto acustico e do escritorio do Prof. Roberto Thompson. Anexo a ele, previu-se espaço para instalaçao de um cafe que o atendera alem de estar disponível ao publico durante o dia.
Em todos os pavimentos, foram refeitos os tetos em gesso e reaplicados os elementos decorativos, quando existentes, tendo sido recompostos os desenhos em inumeros locais onde estavam parcialmente deteriorados.
A pintura das paredes so foi possível apos aprovaçao de sua tonalidade pelo IPHAN – Instituto de Patrimonio Historico Nacional. As fachadas externas tambem receberam novo revestimento, apos completa recomposiçao, com aplicaçao de produto hidrofugante, que reduz a açao das intemperies na nova pintura.
Foram concluidos os banheiros; os originais, que ja existiam em cada andar da lateral voltada para a rua Pedro Lessa, alem dos novos, que foram acrescidos em sua outra lateral.
Adquiriu-se e instalou-se maquina de ar condicionado, efetuando-se todas as ligaçoes eletricas e hidraulicas definitivas. Foi executado o projeto de luminotecnica, com escolha de luminarias e lampadas que propiciassem uma boa reproduçao de cor e atendimento maximo a exposiçoes.
Os pisos de madeira foram calafetados e protegidos. Os rodapes com trinta centimetros de altura, bem como as impressionantes aduelas, alisares e portas de mais de tres metros, receberam camadas de verniz.
Os torreoes que ladeiam as fachadas, de procedencia francesa, ja haviam sido remodelados em epocas preteritas, mas estavam deteriorados. Vistos do predio anexo aonde ficam localizadas as Varas Federais, evocavam-me um majestoso navio naufragado, em virtude de sua tonalidade esverdeada. Efetuado levantamento metrico, foram projetadas as peças em cobre que agora refletem a luz do sol.
Em pequenas areas de diversos ambientes do predio, as sucessivas camadas de repintura foram cuidadosamente removidas, com auxílio de bisturis cirurgicos e espatulas odontologicas, revelando em alguns casos seis diferentes aplicaçoes. Muitas vezes foram descobertas pinturas decorativas a oleo, algumas provenientes do projeto original, de gosto mais classico, e outras de uma segunda fase, com ,predominancia do uso do estencil com cores escuras,
As colunas, com seus capiteis dourados em estilo composito, tambem sofreram decapagem de inumeras repinturas, revelando trabalho de marmorizaçao. A seguir efetuou-se a limpeza quimica, para remoçao dos excessos resultantes da açao mecanica da retirada das sucessivas camadas de tinta, ficando a superfície apta a receber nova camada de massa de nivelamento nas areas de perdas do trabalho original, que foi recoberta por diminutos pontos de tinta ate retomada da aparencia original.
Finalmente, parecia-nos que o predio já possuía condiçoes de habitabilidade, e no dia 18 de dezembro de 2000, a maior obra de restauro da America Latina foi apresentada a comunidade, que se encantou com o trabaIho original e com a perícia dos responsaveis pelo seu resgate.
A comoçao era geral! Visivel, tambem, a emoçao de nosso Presidente, Dr. Alberto Nogueira, do eterno Ministro Evandro Lins e Silva, do Presidente do STJ, Ministro Costa Leite e do Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Carlos Mario Velloso, que ressaltou a importancia da integraçao do predio ao patrimonio cultural da cidade. O restauro, no entanto, e um desafio que prosseguira, mesmo apos a abertura das soberbas portas entalhadas.
A mim, que tive a oportunidade singular de acompanhar de perto a conclusao dos trabalhos, fica o orgulho de ter, ainda que de uma maneira infima, contribuído para que o predio, paixao de todos os que nele passaram, pudesse ser devolvido a comunidade. Remanesce, tambem, o compromisso de zelar por sua manutençao e total recuperaçao, já que fui indicada para ser Diretora do novo Centro Cultural.