Edição

Esperanças e responsabilidades

31 de janeiro de 2009

Da Editoria

Compartilhe:

O mundo está em alvíssaras com o renascer de esperanças de paz, representado pelo discurso de Barack Hussein Obama ao tomar posse da presidência dos Estados Unidos da América; mas está também consciente da responsabilidade que afeta toda a humanidade.
Os horrores precipitados com o terrorismo de 11 de setembro em Nova York, a guerra do Iraque, os horrorosos bombardeios ocorridos na Faixa de Gaza, criando para os palestinos um novo e desumano holocausto, a fome interrompendo a vida de milhões e milhões de homens, mulheres e crianças por esse mundo afora traduzem a expectativa representada por novos líderes que surgem no mundo globalizado.
O vibrante e incisivo pronunciamento do presidente americano reflete o ânimo e a confiança do condutor da maior e mais poderosa nação do mundo, na reversão da difícil situação econômica, financeira e política que os Estados Unidos atravessam, com a confiança afirmativa de quem acredita na ação audaciosa e rápida, como diz e promete.
O discurso de Barack Obama é primoroso e extremamente objetivo: tem como lema e finalidade a paz no mundo e o término das guerras geradas na rede de violências e ódio, a recuperação da economia gravemente enfraquecida, consequência da cobiça e irresponsabilidade de alguns, o encontro do emprego e do trabalho, a restauração da ciência  a seu lugar de direito e o emprego das maravilhas da tecnologia para elevar e melhorar as condições de vida na América e proporcionar ajuda para toda a humanidade.
As afirmativas enérgicas de Barack Obama demonstram o seu propósito, que, desde os discursos da campanha eleitoral, despertou no mundo a onda de confiança e esperança, reiteradas no discurso de maior audiência pronunciado no mundo.
Dentre as suas oportunas e candentes orações, ele disse:
“O estado de economia exige uma ação firme e audaciosa e nós vamos agir. Continuamos a ser um país jovem, mas, nas palavras da Bíblia, é chegada a hora de deixar de lado as coisas infantis. É chegada a hora de reafirmar o nosso espírito duradouro, de escolher nossa história melhor: de levar adiante aquela dádiva preciosa, aquela idéia nobre que vem sendo transmitida de geração em geração: a promessa dada por Deus de que todos são iguais, todos são livres, e todos merecem a oportunidade de lutar por sua plena medida de felicidade. Começando hoje, precisamos nos reerguer, esfregar nossas mãos e começar novamente o trabalho de refazer a América.
Vamos construir estradas e pontes, as grandes elétricas e as redes digitais que alimentam nosso comércio e nos unem. Vamos restaurar a ciência a seu lugar de direito e empregar as maravilhas da tecnologia para elevar a qualidade da saúde e reduzir seus custos. Vamos atrelar o sol, os ventos e o solo para proverem combustível para nossos carros e nossas fábricas. E vamos transformar nossas escolas, nossas faculdades e universidades, para que façam frente às demandas de uma nova era. Tudo isto nós podemos fazer. E isto tudo nós vamos fazer.
Os fundadores do nosso país, confrontados com perigos que mal conseguimos imaginar, redigiram uma carta para assegurar o respeito pelas leis e os direitos do homem, carta essa ampliada pelo sangue de gerações. Esses ideais ainda iluminam o mundo, e não abriremos mão deles em nome da conveniência. E assim, diremos a todos os povos e governos que nos estão assistindo hoje, desde as capitais mais grandiosas até o pequeno povoado em que meu pai nasceu: saibam que a América é amiga de cada país e de cada homem, mulher e criança que busca um futuro de paz e de dignidade;  e saibam que estamos preparados para liderar novamente.
Somos uma nação de cristãos e muçulmanos, de judeus e hindus – e de não-crentes. Somos moldados por todas as línguas e culturas, vindas de todos os cantos da Terra, e, porque já sentimos o sabor amargo da guerra civil e da segregação e emergimos desse capítulo sombrio mais fortes e mais unidos, não podemos deixar de acreditar que os velhos rancores algum dia passarão, que as divisões entre tribos se dissolverão, e que, à medida que o mundo se torna menor, nossa humanidade comum se revelará, e que a América terá de exercer seu papel em saudar a chegada  de uma nova era de paz.
Somos os guardiões deste legado. Guiados novamente por esses princípios, poderemos fazer frente às novas ameaças que demandam esforço ainda maior, cooperação e entendimento ainda maiores entre nações. Começaremos a entregar o Iraque de modo responsável aos cuidados do seu povo e a forjar uma paz conquistada a duras penas no Afeganistão. Com velhos aliados e inimigos anteriores, trabalharemos incansavelmente para reduzir a ameaça nuclear e para afastar o fantasma de um planeta em processo de aquecimento.
Não vamos pedir desculpas por nosso meio de vida, nem hesitaremos em sua defesa, e, àqueles que buscam promover seus objetivos, induzindo ao terror e massacrando inocentes, afirmamos neste momento que nosso espírito é mais forte e não pode ser derrotado; que esses não podem resistir mais do que nós, e que nós os derrotaremos.
Aqueles que se agarram ao poder através da corrupção, do logro e do silenciamento da dissensão, saibam que estão do lado errado da história – mas que estamos dispostos a lhes estender uma mão, se vocês se dispuserem a abrir seus punhos.
Estamos em meio a uma crise já amplamente compre-endida. Nossa nação se encontra em guerra contra uma rede de violência e ódio de grande extensão. Nossa economia está gravemente enfraquecida, consequência da cobiça e irresponsabilidade de alguns, mas também de nosso fracasso coletivo em fazer  escolhas difíceis e preparar o país para uma nova era. Residências foram perdidas, empregos desapa-receram, empresas foram fechadas. Nosso sistema de saúde é oneroso demais, e a cada dia traz mais evidências de que a maneira que utilizamos a energia elétrica fortalece nossos adversários e põe em risco nosso planeta.
Esta é a jornada que levamos adiante hoje. Continuamos a ser o país mais próspero e poderoso da Terra. Nossos trabalhadores não são menos produtivos hoje do que eram quando esta crise começou. Nossas mentes não são menos criativas, nosso bens e serviços não são menos necessários do que eram na semana passada, no mês passado ou no ano passado.
Nossos desafios podem ser novos. Os instrumentos com os quais os enfrentamos podem ser novos. Mas os valores dos quais depende nosso êxito, o trabalho duro e a honestidade, a coragem e o fair play, a tolerância e a curiosidade, a lealdade e o patriotismo – essas coisas são antigas. Essas coisas são verdadeiras. Elas têm sido a força tranquila do progresso ao longo da nossa história. O que se exige de nós agora é uma nova era de responsabilidade, o reconhecimento, de parte de cada americano, que temos deveres para conosco, para com nosso país e para com o mundo, deveres que não aceitamos a contragosto, mas que agarramos com alegria, firmes na consciência de que não existe nada que não seja tão satisfatório ao espírito, que tanto defina nosso caráter, quanto darmos tudo de nós mesmos para levar adiante uma tarefa difícil.
Esse é o preço e a promessa da cidadania.
Essa é a fonte da nossa confiança: a consciência de que Deus nos convoca para moldarmos um destino incerto.
Este é o significado de nossa liberdade e de nosso credo – e é por isso que homens, mulheres e crianças de todas as raças e todas as fés podem unir-se em celebração neste espaço magnífico e porque um homem cujo pai, menos de 60 nos atrás, talvez não tivesse sido servido num restaurante local, hoje pode colocar-se diante de vocês para fazer o mais sagrado dos juramentos.
América, diante de nossos perigos comuns, neste inverno de nosso sofrimento, recordemo-nos dessas palavras que resistem ao tempo. Com esperança e com virtude, enfrentemos as correntezas geladas novamente e suportemos as tempestades que possam vir. Que seja dito pelos filhos de nossos filhos que, quando fomos postos à prova, nos recusamos a deixar esta jornada terminar, que não recuamos nem fraquejamos e que, com os olhos fixos no horizonte e com a graça de Deus a nosso lado, carregamos adiante a grande dádiva da liberdade e a entregamos em segurança às gerações futuras.”
O empolgante discurso do presidente Barack Obama, com toda a esperança que espalha para o mundo, deixa, entretanto, em exame para reflexão as responsabilidades e as previsões que se fazem necessariamente no mundo globalizado de hoje, e que estão levando de roldão, indistintamente, todas as economias do planeta.
O conflito econômico e financeiro dos Estados Unidos, aceitando-se todas as premissas, propostas e intenções do seu novo chefe, está muito aquém de ser solucionado a curto prazo, evidenciando a continuidade da avassaladora crise que ocorre, e deverá continuar no mesmo diapasão, pelo menos, ainda por todo este ano de 2009.
Preocupante também é a situação e responsabilidade do Brasil, nesse contexto da crise que atinge indiscriminadamente os países emergentes, pois são evidentes os graves problemas que já estão espoucando continuadamente com demissões de trabalhadores e reduções de horário de trabalho, férias e reformulação de contratos temporários.
Entretanto, ao nos filiarmos aos propósitos e às esperanças formulados pelo governante americano, não podemos descurar das responsabilidades que também estão afetando a economia brasileira.