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Os “Brasiguaios” e o pouco caso com a Saúde

11 de setembro de 2012

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Em fins de 1963, numa das visitas que o Presidente João Goulart fez à sua Estância em São Borja, tive a honra de ser seu convidado. Na ocasião, ele recebeu em sua residência a visita do general Alfredo Stroessner, presidente do Paraguai.

Lembro-me de várias das conversas que assisti a convite de Jango, dentre elas um pedido para que o presidente ajudasse o Paraguai, incentivando industriais brasileiros a lá se instalarem com a promessa de bons incentivos.

Na ocasião, o presidente Jango lhe disse das dificuldades que teria em convencer empresários brasileiros a se instalarem naquele país, mas sugeriu ao presidente Stroessner uma forma do Paraguai conseguir alavancar uma riqueza de grandes proporções com a exploração intensiva da agricultura em suas terras férteis.

Tenho ainda na memória as expressões incrédulas de Stroessner, que indagou: “Mas como, presidente, se não temos essa experiência?” Ao que Jango respondeu: “Tu sabes das minhas atividades na pecuária e na agricultura onde temos tido sucesso. O mesmo acontece com os nossos agricultores do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná, que não têm mais com expandir por falta de terra. As terras fronteiriças do Paraguai são férteis e estão abandonadas. Basta que tu abras concessões e venda dessas terras aos nossos agricultores e, em breve, o Paraguai será um grande exportador de soja e outros produtos agrícolas”.

O Presidente Stroessner aceitou e pôs em prática os conselhos do presidente Jango. 26 anos depois, em 2002,  segundo o censo paraguaio, existiam 120 mil brasileiros sem cidadania no Paraguai (os brasiguaios), que, com o suor de seu trabalho fizeram com que o país se tornasse o terceiro produtor agrícola do mundo.

Hoje, vivem na fronteira do Paraguai com o Brasil cerca de 150 mil brasileiros, que sofreram nos últimos quatro anos do governo Lugo invasões de fazendas, destruição de casas e de máquinas agrícolas, além de violências, assassinatos, estupros e outras barbaridades. Lá, como aqui, os sem terra incentivados sob a égide de uma falsa e ilusória reivindicação, sem respeito ao direito e à lei, abusam, cometendo crimes contra nossos patrícios, que, acreditando nos incentivos e nas concessões oferecidos anteriormente pelo governo paraguaio, prepararam e araram a terra produzindo as riquezas que hoje o país usufrui com as colheitas de soja, milho, algodão e outros produtos agrícolas que o tornaram, graças aos brasiguaios, o terceiro produtor de soja das Américas.

Entretanto, não é somente das terras cedidas aos agricultores brasileiros para produzir bens e da opulência rural que o Paraguai desfruta. Outro importante fato aconteceu com a Usina Hidroelétrica de Itaipu, construída nas margens do Rio Paraná, fronteira com o Paraguai, financiada inteiramente pelo Brasil, que proporcionou oportunidades àquele país para se desenvolver. A construção da Usina, na ocasião, sofreu críticas de técnicos e engenheiros especializados no assunto, inclusive de órgãos da classe de engenheiros que se posicionaram contra, opinando pela construção de três usinas no leito do rio Paraná – com potência energética maior que a prevista e com a vantagem de ser inteiramente brasileira. No entanto,  prevaleceu a opinião triunfalista do presidente Emílio Médici, que quis que o Brasil tivesse a maior usina hidroelétrica do mundo.

Em razão da construção da Usina de Itaipu foi criada uma “entidade internacional de natureza empresarial”, onde, tendo em vista o aproveitamento dos recursos hídricos comuns, as questões jurídicas seriam resolvidas e, desde logo pactuada entre os dois países, a possibilidade de compra/venda da energia produzida que não fosse utilizada para consumo próprio, resultando no Tratado firmado em 26 de abril de 1973, no qual o Brasil se comprometia a, durante 50 anos, comprar o excedente do Paraguai por US$ 120 milhões/ano.

Entretanto, o presidente Lugo – que já em sua campanha eleitoral alardeava demagogicamente que o Tratado de Itaipu representava uma exploração do Brasil contra o povo paraguaio –, além de insuflar os “sem terra” do país a invadir as propriedades agrícolas dos “brasiguaios” que se instalaram, por compras e concessões do governo, nas terras fronteiriças, motivou, com o explícito beneplácito do ex-presidente Lula e apoio de deputados e senadores petistas, que o governo federal cedesse, desconsiderando as condições do referido Tratado de Itaipu, para aumentar o valor  da compra do excedente não utilizado pelo Paraguai em mais US$ 240 milhões/ano até 2023, o que representa um dispêndio absurdo e indevido de mais 2  bilhões e 880 milhões de dólares subtraídos do povo brasileiro.

Volto a lembrar face este acontecido, com tristeza e revolta, a antológica frase do  presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Carlos Ayres Britto, ao sentenciar e condenar o corrupto ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda: “Dói na alma e no coração ver um governante sair do palácio preso e conduzido à cadeia. Há gente que sobe na vida para praticar baixarias”.

Entretanto, enquanto o governo esbanjará estupida­mente até o ano de 2023, essa colossal dinheirama que poderia ser mais bem aplicada na melhoria da remuneração dos professores, e em especial na saúde, onde a população carente, abandonada e desamparada se queda miseravelmente desgraçada e sem assitência nos corredores dos hospitais em todo o Brasil