Edição 20
“Quem semeia ventos, colhe tempestades” “Quem com ferro fere com ferro será ferido”
31 de outubro de 2001
Orpheu Santos Salles Editor
(Editorial originalmente publicado na edição 20, 10/2001)
É em razão do sentido implícito e lógico destes provérbios, quando as ações belicosas espoucam no mundo, que a reflexão nos leva a motivos e razões que prenunciam a hecatombe. E também com reflexão, se pergunta quem são os culpados pela desgraças, pela fome e pelos morticínios que estão acontecendo no mundo.
Indubitavelmente são derivados da sede de conquistas, de terras e da disputa pela hegemonia de crenças, ânsia de poderes e riquezas, pouco importando aos poderosos e dominadores da economia do mundo, o sofrimento, a miséria, as doenças, a fome e a morte dos seus semelhantes.
Um artefato bélico, atirado das alturas mata centenas de milhares de homens, mulheres, crianças e idosos, completamente inocentes e alheios da guerra, mas, tudo é justificado com sofismas e desculpas insanas, de que o feito trouxe benefícios de menos vítimas e mortes. Não importa a justificativa de que os desaparecidos pela força destruidora atômica foram imolados para acabar com a guerra.
O término da última guerra mundial com a constatação da monstruosidade dos sacrifícios humanos ocorridos nos campos de concentração impostos por Hitler ao povo judeu, contribuiu para o aceleramento da criação do Estado de Israel que contou, aliás, com a efetiva participação do nosso saudoso embaixador Oswaldo Aranha, então ocupante da presidência da ONU. Na mesma sessão, em 19 de maio de 1948, em que foi aprovada a criação do Estado de Israel, também foi aprovado o Estado da Palestina, mas a sua criação tem sido obstaculizada por Israel, os Estados Unidos e a Europa, o que tem motivado as desavenças e desencontros armados entre os palestinos e israelenses.
E é fora de dúvida, que o que acontece hoje no mundo, com a proliferação do terrorismo e as conseqüências para a sua erradicação, são frutos da revolta no mundo árabe, em face da procrastinação efetiva da criação do Estado da Palestina, originando as lideranças inconformadas, que à falta de meios mais apropriados, partem para o terrorismo.
A atuação dos donos do mundo econômico, exploradores das riquezas do petróleo e minerais, e que se tornaram financiadores e conseqüentemente donos da política que governa e controla o poder das grandes nações, tem sido o entrave maior a impedir a criação do Estado Palestino.
A ocupação desmedida por Israel, contra resoluções da ONU, das terras pertencentes aos árabes, indiscutivelmente é o principal pomo da discórdia entre palestinos e israelenses, o que infelizmente, está propiciando o holocausto de gente inocente, principalmente mulheres, crianças e idosos, impingindo guerras no Oriente Médio e propiciando o criadouro de terroristas que continuarão a florescer.
Foi preciso a explosão de dois símbolos do poderio da maior potencia do planeta – o econômico e o militar – e com ela, o sacrifício de mais de seis mil inocentes para que Washington percebesse a sua vulnerabilidade, e pagasse o preço absurdo e trágico praticado por terroristas fanáticos, que se julgam justiceiros das atrocidades sofridas pelo seu povo.
O Oriente Médio, criador das grandes civilizações da antigüidade, transformou-se em barril de pólvora. A arbitrária divisão política das terras, a miséria do povo confrontando com a opulência do Estado, a exploração deturpada dos ensinamentos e mensagens do Alcorão são elementos que produzem a insatisfação, o ressentimento, a revolta e o ódio.
O lamentável do que acontece e fatalmente continuará a suceder, é que somente agora, depois de ter deixado o governo, o ex-presidente BILL CLINTON, reconhece, como afirmou recentemente, em discurso para executivos, jornalistas e formadores de opinião em Washington, que a pobreza, as desigualdades econômicas e ausência de democracia, adubam o terror e são fatores que alimentam a desesperança dos povos.
E disse mais: que os Estados Unidos deveriam compreender e enfrentar esses problemas, aumentando as oportunidades econômicas por meio da educação, promovendo a democracia no mundo, enfrentando as causas do mal que ameaça marcar o século XXI.
No seu discurso, CLINTON ignorou um ponto crucial para desenvolver a normalidade do mundo, mas foi lembrado por GEORGE W. BUSH. O presidente norte-americano afirmou ser partidário da aplicação das resoluções 242 e 338 da ONU para encontrar solução justa, global e definitiva da questão palestina. Ninguém duvida da importância do tema para a paz mundial. Ninguém duvida, também, do papel de Washington no jogo histórico. Enquanto os Estados Unidos continuarem somente do lado de Israel e não se empenharem efetivamente na instalação de um Estado Palestino, com recuperação das terras hoje invadidas e ocupadas por Israel, não haverá paz e o terrorismo continuará em todo o mundo, sacrificando inglória e infelizmente a humanidade.
O que acontece hoje no mundo, como conseqüência do definido nos provérbios bíblicos que encimam o Editorial, teriam que ser entendidos pelos governantes do planeta, para que a paz voltasse a imperar para tranqüilidade e sossego da humanidade.