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Barão do Rio Branco

5 de março de 2005

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O Barão dos Limites

Advogado, jornalista, geógrafo e historiador, nascido no Rio de Janeiro em 20 de abril de 1845, José Maria da Silva Paranhos Júnior estudou no Colégio Militar, onde se tornou amigo de Floriano Peixoto, seu colega de esgrima, e se formou em Direito na cidade de Olinda. Depois de formado, Juca Paranhos, como era conhecido em sua mocidade, foi trabalhar no Rio como professor interino do colégio Pedro II, onde ficou por três meses. Na carta que escreveu a um amigo disse que não tinha vocação para advogado “não sirvo mesmo para isso, decididamente”, mesmo assim passou um tempo em Friburgo como promotor (1869), mas desistiu.

O título de Barão do Rio Branco foi uma honraria concedida pela Princesa Isabel em maio de 1888 como homenagem ao seu trabalho em favor da abolição através do jornal que fundara em 1868, A Nação.  Foi amigo de D. Pedro II, mas essa amizade, porém, não pesou quando José Maria Paranhos Júnior decidiu ingressar na carreira diplomática e tornar-se cônsul do Brasil em Liverpool. O Imperador vetou seu nome, mas um ano depois, em 1876, o Primeiro Ministro, Barão de Cotegipe, ameaçou se demitir caso seu amigo não fosse nomeado para aquele cargo. Colaborou também para que a nomeação fosse assinada, o chefe do gabinete conservador do Império, o Duque de Caxias.

Proclamada a República em 1889, Rio Branco tentou abandonar a carreira diplomática por fidelidade ao Imperador. D. Pedro II que ao saber disso lhe mandou um recado: “Diga ao Rio Branco que ele é um bom servidor do país (…) que continue a trabalhar pelo Brasil. Eu passo e o Brasil fica”.

Rumo à glória

Um ano após a Proclamação da República, Marechal Deodoro o nomeou superintendente do Serviço de Imigração. Com a nova constituição, a renúncia de Deodoro e a posse de Floriano Peixoto na Presidência da República, foi convocado por seu velho colega de esgrima do Colégio Militar para defender o Brasil na questão de limites com a Argentina. Esta seria a primeira das muitas vitórias que Rio Branco conquistaria e que o tornou conhecido como “O Guardião das Fronteiras do Brasil” e o “Barão dos Limites”. Quando eclodiu a questão do Acre em 1902, Rio Branco foi nomeado Ministro das Relações Exteriores, cargo que exerceu por mais de dez anos servindo aos governos de Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha e Hermes da Fonseca.

Eduardo Bueno em História do Brasil cita as conquistas do Barão para o Brasil, a incorporação de uma área equivalente a 12 vezes o território da Suíça.  “A Questão das Missões, a Questão do Amapá, a Questão do Acre, a Questão do Pirará, os Limites com a Guiana Holandesa, os Limites com a Colômbia, os Limites com o Peru e o Condomínio da Lagoa Mirim e do Rio Jaguarão, somaram cerca de 900mil quilômetros quadrados de área incorporada ao Brasil, graças ao trabalho de negociação desse grande brasileiro.

A Conquista do Acre

A eficiente política diplomática do Barão do Rio Branco teve no caudilho gaúcho,  José Plácido de Castro, o seu braço armado de maneira involuntária. Conta Bueno: “chefiando o bando de seringueiros que invadiu o território boliviano em 1902, Castro criou uma situação de fato que, após vários conflitos armados, Rio Branco resolveu de direito. Tudo começou com o boom da borracha e com a seca que assolou o Ceará entre 1877 e 1879, quando cerca de 30 mil retirantes migraram para a Amazônia. Logo já ocupavam os então desconhecidos vales dos rios Juruá e Purus em pleno território boliviano. Era uma área de difícil demarcação e muita riqueza vegetal”.

Em 1900, insuflada pelos Estados Unidos, a Bolívia exigiu que os brasileiros saíssem da área. Segundo o acordo feito com os Estados Unidos, a Bolívia cederia o Acre para a multinacional Anglo-boliviana Syndicate em troca de um abatimento de 50% nos impostos sobre a exportação de sua borracha. Para resolver esse impasse o gaúcho Rodrigo Carvalho, fiscal da fronteira, conclamou seu conterrâneo Plácido de Castro para liderar a chamada Revolta dos Seringueiros.

Conhecido das táticas de guerrilha, maragato veterano da Revolução Federalista de 1893, Plácido de Castro a frente de 2 mil sertanejos armados de fuzis tomou Xapurí e em 7 de agosto de 1902 proclamou a independência do Acre. Vários outros combates sangrentos se seguiram, todos com a vitória do bando de Plácido. O Presidente boliviano ameaçou ir ao palco das operações e deflagrar guerra total. Começaram, então, as negociações diplomáticas com Rio Branco no comando da delegação brasileira. Por fim, em novembro de 1903, foi assinado o Tratado de Petrópolis segundo o qual a parte meridional do Acre, reconhecidamente boliviana, mas desbravada e povoada por brasileiros, passaria para o Brasil em troca de 2 milhões de libras e a promessa da construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, jamais concluída.

Episódio à parte

Euclides da Cunha, autor da imortal obra Os Sertões, escrevia, na época, para o Jornal O Estado de São Paulo, abordando, na maioria de seus textos, a questão de limites entre o Brasil e Peru, assim como o abandono da Amazônia. Leitor das reportagens de Euclides, Rio Branco o convidou e o nomeou chefe da missão exploratória que partiu para o Alto Purus em abril de 1905 para traçar fronteiras entre Brasil e Peru. Ao longo de seis meses, Euclides viveu todos os dramas da selva: naufrágios, doenças, motins, falta de comida. Mesmo assim cumpriu a missão que o Barão lhe designara e retornou à civilização em 1906.

Noites Cariocas

O embaixador aposentado Vasco Mariz na edição de julho de 2003 da revista Carta Mensal publica uma palestra intitulada “O Duque de Caxias e o jovem Rio Branco”, onde recorda aspectos relevantes da mocidade de Juca Paranhos e o papel decisivo em sua vida que desempenhou seu velho amigo, o Duque de Caxias. Vasco Mariz ainda cita as duas   biografias mais importantes do Barão de Rio Branco: a de Álvaro Lins, acadêmico e crítico literário de sua época, e a de Luis Viana Filho, também acadêmico, ex-governador da Bahia e senador pelo seu Estado.

Diz Vasco Mariz: “Desde jovem, Juca Paranhos sentiu forte atração pela noite carioca”. E completa Luis Viana Filho: “O belo sexo atraia o adolescente e nada o deliciava mais do que a indiscrição de um decote. Freqüentava regularmente as noitadas do Alcazar Lyrique na rua da Vala, atual rua Uruguaiana. Se durante o dia freqüentava as aulas da faculdade, à noite era um boêmio consumado, pois não perdia os espetáculos de teatro, ópera ou opereta. Seus hábitos eram considerados exóticos, pois se levantava tarde, almoçava por volta das 15 horas e jantava de madrugada”.

A fim de afastá-lo das noites cariocas, seu pai o Visconde do Rio Branco, Presidente do Conselho de Ministros do Império (1870-1875), obrigou o filho a terminar o curso de Direito, que havia iniciado em São Paulo aos 17 anos, em Olinda, Pernambuco. O Rio da época oferecia inúmeras tentações noturnas. O jovem Juca ao se formar em Pernambuco, retornou para a cidade maravilhosa a fim de conviver ao lado de atrizes francesas atraentes que aqui se apresentavam em espetáculos teatrais.

Depois de formado em Direito e já trabalhando como professor interino do Colégio Pedro II no Rio, Juca Paranhos foi surpreendido pela sorte. Conta Vasco Mariz: “Em 1867, Juca Paranhos teve uma surpresa agradável: ganhou 12 contos de reis em uma loteria e, como os liberais estavam no poder e nada se podia esperar deles, decidiu fazer uma viagem à Europa que não conhecia ainda. Visitou vários países do continente e demorou-se em Portugal”.

A Política

Com a queda do gabinete liberal em 1868, seu pai assumiu o Ministério dos Negócios Estrangeiros no governo de Itaboraí. Foi quando Juca resolveu tentar a carreira política. Como sua candidatura era inviável no Rio, o Visconde de Rio Branco lançou o filho como candidato por Mato-Grosso, Estado que, aliás, não conhecia.

Escreveu ele a um amigo: “não acho natural, mas acho possível”. Foi eleito. Álvaro Lins escreveu que o deputado Paranhos, que também trabalhava na redação do jornal “A União”, era o jornalista mais ativo e mais bem informado da Câmara. Ainda encontrava tempo para freqüentar reuniões da poderosa maçonaria, seita condenada pela Igreja e do desagrado de D. Pedro II.

Os Amores de Juca

No inicio de 1872, Juca encontrou no Alcazar Lyrique uma belga chamada Marie Philómene Stevens, de 22 anos de idade, por quem se apaixonou. Em breve ela engravidou e ao longo de 26 anos de convívio tiveram cinco filhos. Quando foi nomeado para Liverpool, Rio Branco levou-a para Paris onde ela ficou até morrer em 1898.

Ainda convivendo com Marie Philómene, Juca Paranhos se apaixonou por Maria Bernardina, uma jovem de 15 anos filha do Visconde de Tocantins e sobrinha de Duque de Caxias, os dois políticos amigos de seu pai. Luis Viana escreveu: “essa nova inclinação amorosa o obrigava a medir cada passo e a pesar cada palavra. O melhor era partir logo levando a amante grávida e os filhos. Depois se veria como afastá-lo do caminho de Maria Bernardina”.

E por curiosa ironia do destino, conta Vasco Mariz, a sua segunda paixão amorosa acabaria casando-se com Salvador Antonio Moniz Barreto de Aragão. O filho do casal, José Joaquim Moniz de Aragão, viria a ser seu secretário particular quando Ministro das Relações Exteriores. Em seu enterro, foi Moniz de Aragão, o filho de Maria Bernardina, quem teve o privilégio de levar em suas mãos a almofada com as condecorações do chefe.

O Adeus

No final de sua vida, José Maria da Silva Paranhos Junior se envolveu em dois fatos considerados polêmicos. Convidado a concorrer à Presidência da República em 1909, recusou a proposta, mas segundo Eduardo Bueno “não pode esquivar-se entre o civil Rui Barbosa e o Marechal Hermes da Fonseca”.  Rio Branco deu as costas ao civilismo de Rui. Depois foi favorável a punição dos marinheiros na Revolta da Chibata.

Rio Branco foi enterrado como herói depois de ser homenageado por mais de 300 mil pessoas.