Edição

Angelina e Maria da Penha

30 de junho de 2010

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“Irene preta, Irene boa,

Irene sempre de bom humor.

Imagino Irene entrando no céu:

– Licença, meu branco.

E São Pedro, bonachão:

– Entra, Irene, você não precisa pedir licença.”

O que cantou Manuel Bandeira de Irene pode-se dizer de Angelina, que se pecado tem é o de fornecer-nos pretexto para o cometimento do pecado da gula. Angelina boa, suave, pura, simples, ingênua, sempre alegre e bem-humorada, de uma comovente ternura e boa vontade e, em suas poucas luzes, sagaz e inteligente.

Estava eu sentado à mesa da cozinha com minha mulher. Em dado momento, alertando-a sobre um fictício mosquito que teria pousado em seu cabelo, perguntei-lhe se poderia matá-lo. Diante de sua resposta afirmativa, distanciei a mão, fingindo que iria aplicar-lhe um tapa na cabeça com toda a força. Angelina, percebendo a brincadeira, sorriu, e, ante meu comentário de que parecia despreocupada com o que estaria prestes a acontecer, advertiu-me:

– O senhor conhece a Lei Maria da Penha, não conhece?

À minha resposta evidentemente afirmativa, acrescentou com candura:

– Pois é, não precisa bater, basta ameaçar…

Angelina é do povo, Angelina conhece a Lei Maria da Penha, o povo conhece a Lei Maria da Penha. Se há, pois, entre nós, como se costuma criticar, “leis que pegam” e “leis que não pegam”, dessa se pode seguramente dizer que “pegou”. Que o diga Angelina.