Compromisso perpétuo com a Justiça

21 de outubro de 2021

Da Redação

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O Superior Tribunal de Justiça (STJ) foi palco, na noite de 20 de outubro, da solenidade de entrega do XXX Troféu Dom Quixote pela Revista Justiça & Cidadania. A edição marcou o centenário de nascimento do jornalista Orpheu Salles, idealizador do Prêmio, que é outorgado desde 1999 às autoridades do mundo jurídico cuja atuação se destaca em defesa da ética, da justiça e dos direitos da cidadania. O Troféu Sancho Pança surgiu poucos anos depois para homenagear aqueles que, após receber o Dom Quixote, se mantiveram fiéis aos mesmos princípios.

Foi concedida ainda a Medalha do Mérito Centenário de Orpheu Salles a dez personalidades, entre elas o Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ministro Luiz Fux, o Presidente do STJ, Ministro Humberto Martins, a Presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Ministra Maria Cristina Peduzzi, e o Ministro do STJ Luis Felipe Salomão, Presidente do Conselho Editorial da Revista.

Foram homenageados com os troféus os ministros do STF, de hoje e de sempre, Carlos Mário Velloso, José Antonio Dias Toffoli, Alexandre de Moraes e Kassio Nunes Marques; os ministros do TST Ives Gandra Martins Filho e Breno Medeiros; o Ministro do STJ Antonio Carlos Ferreira; o Vice-Presidente do Superior Tribunal Militar, Ministro Péricles Aurélio de Queiroz, e a Ministra do Tribunal Superior Eleitoral Maria Cláudia Bucchianeri Pinheiro.

Foram também homenageados o Procurador-Geral da República, Augusto Aras; o Governador do Estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro; o Secretário-Geral do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Juiz Federal Valter Shuenquener; o Secretário-Geral do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), José Alberto Simonetti; e o membro honorário vitalício da OAB Marcus Vinicius Furtado Coêlho, que foi Presidente do Conselho Federal da Ordem entre 2013 e 2016.

Pena firme – Ao lado do Editor-
Executivo Tiago Salles e da Chefe de Redação, Erika Branco, o Presidente do STJ inaugurou a Estátua de Dom Quixote, que passou a integrar o acervo permanente e ficará exposta no Salão Nobre do Tribunal. Ele rogou à dupla, que responde pela Revista desde a partida de Orpheu, em 1996, que permaneça firme na busca de uma sociedade mais justa, igualitária e democrática.

“Orpheu, com pena firme, sempre realçou o papel da Justiça – em especial na divulgação e conscientização dos direitos fundamentais e do pleno exercício da cidadania – fazendo de sua vida uma verdadeira epopeia de coragem, renúncia e determinação. Viveu sonhando, realizando, correndo riscos, como um Dom Quixote”, acrescentou o Ministro Humberto Martins em homenagem ao fundador da Revista.

Como uma vela – No momento de maior emoção da noite, Tiago Salles relembrou que a Revista foi criada por ambos com o objetivo de aproximar o Poder Judiciário da sociedade. Na época, seu pai estava prestes a completar 80 anos, no auge da carreira como jornalista.

“Quando faleceu aos 94 anos, em 2016, Orpheu ainda estava na ativa como redator e editor. Era o decano do jornalismo brasileiro, o mais antigo membro vivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e continuava brilhante, criativo, cheio de ideias, opiniões e lindas histórias. Escreveu ele, perto do fim, sobre suas memórias, algo que serve para cada um de nós: “Ataquei os moinhos de vento e os atacaria de novo. O homem é luz e deve viver como uma vela, iluminando e queimando de pé até o seu fim’”. 

Direito à utopia – Ao discursar em nome da Confraria Dom Quixote – integrada pelos agraciados nas 30 edições – o Ministro Luis Felipe Salomão afirmou que Orpheu Salles naquele dia estaria satisfeito, pois as comendas se tornaram  uma fonte de inspiração para os homenageados e refletem muito bem o espírito do “cavaleiro andante” da obra de Miguel de Cervantes.

“Estamos hoje com a estátua do Quixote, que o Tribunal recebe com tanta satisfação. (…) Há uma passagem emblemática, na qual Quixote, ao chegar a uma planície, confundindo cerca de 30 moinhos de vento com gigantes, decide enfrentá-los sozinho. (…) O que o Quixote traz no contexto atual é o direito à utopia. Continuando essa utopia, me sinto muito honrado por presidir o Conselho e sei que Orpheu, Tiago, estaria muito orgulhoso pelo papel que você desenvolve em continuidade ao que ele iniciou”, parabenizou o ministro.

Celebrar a esperança – O Ministro Dias Toffoli falou em nome dos homenageados: “Estamos passando por esse momento tão difícil, de perdas de amigos, de pessoas queridas, de entes, mas a vida segue em frente. Celebrar a memória de Orpheu é celebrar exatamente a esperança, a ideia de que a vida vale a pena, mesmo que os nossos sonhos não se realizem, mesmo que a perfeição seja inalcançável. “(…) É com muita satisfação que agradeço em nome de todos os agraciados, a partir do primeiro de todos, o querido amigo e irmão Ministro Carlos Velloso, que foi o primeiro agraciado com esse Troféu belíssimo, que hoje se eterniza em tamanho real”, complementou o ministro.

Em seu discurso, o Ministro Luiz Fux destacou a trajetória de Orpheu Salles, desde a estreia no serviço público, ainda no governo de Getúlio Vargas, até a criação da Revista Justiça & Cidadania: “Quando recordo Orpheu, vislumbro que foi um homem que criou uma revista para aqueles que tinham amor à ética, ao bem, à verdade e à Justiça. Só têm a inspiração de conceber esse nome, Justiça & Cidadania, aqueles que entre lutas e barricadas conseguiram, com sua independência, construir sua trajetória no caminho da democracia que hoje nós vivemos”.

“Nas palavras do filósofo Hu­berto Rohden, assim era Orpheu, como vou descrever: ‘O grande homem é solitário em Deus e solidário em todas as criaturas de Deus. É tranquilo, sereno, paciente. Não grita nem se desespera, pensa com clareza, fala com inteligência, vive com simplicidade. É um homem do passado, do presente e do futuro’, Orpheu era um homem sem tempo, ‘não despreza nenhum ser humano, causa a impressão dos vastos silêncios da natureza, o silêncio do céu, o silêncio do oceano, o silêncio do deserto’. Nunca Orpheu andou à cata de aplausos. Sempre entendia que possuía mais do que julgava merecer. Trabalhava pelo prazer do trabalho em si e não por nenhuma recompensa material. (…) O nome de Orpheu hoje se denomina saudades”, finalizou o Presidente do STF e do CNJ.

A cerimônia completa pode ser assistida no canal de YouTube do STJ.