Que o ovo nunca chegue a ser serpente

24 de maio de 2022

Compartilhe:

Na edição em que Justiça & Cidadania comemora seus 23 anos, a Revista relembra as origens, quando foi criada com o propósito de defender o Supremo Tribunal Federal – e o Poder Judiciário como um todo – das infames tentativas de intimidação que vinham de outra esquina da Praça dos Três Poderes.

Era um momento conturbado, quando, sob a influência das ainda presentes sombras da longa noite da ditadura e movidos por interesses inconfessáveis, houve quem colocasse sob suspeição a atuação do Judiciário e tentasse lhe impor a alcunha de “caixa-preta”. Em resposta, nossa Revista somou-se a um grande movimento institucional da Justiça para, com transparência e abertura à sociedade, demonstrar o quanto aquela enganosa narrativa não correspondia à realidade. 

Hoje, o arbítrio dos anos de chumbo e o revanchismo amargo que sobreveio na difícil retomada democrática são “passagens desbotadas na memória” das novas gerações. Aproveita-se disso quem, envenenado pela serpente do arbítrio, não hesita em lançar mão de torpezas, mentiras e discurso de ódio para causar instabilidade e, assim, instilar suas mal dissimuladas intenções golpistas para abalar o frágil equilíbrio entre os Poderes.

A quem interessa uma Justiça desacreditada?

Confiantes no amadurecimento do texto constitucional e na solidez das instituições democráticas, acreditamos que estas provocações e afrontas não serão suficientes para causar nenhum tipo de ruptura. Os tribunais superiores, a Justiça Eleitoral, a magistratura e o Judiciário como um todo não se curvarão a quem quer prevalecer pela força. E não estarão sós. Ao seu lado há milhões de verdadeiros democratas e entidades que, apesar das inúmeras diferenças, estão irmanadas no propósito de manter o equilíbrio que o País tanto precisa para retomar seu desenvolvimento.

Fundada em 13 de maio, Dia da Abolição, nossa Revista não hesita diante das escolhas que tenham num dos polos a Justiça, a Verdade ou a Liberdade. Impossível não lembrar do jornalista Orpheu Salles, nosso fundador, que mesmo após ter sido preso e perseguido pelo regime militar por suas convicções, nunca se deixou intimidar ou abriu mão dos princípios democráticos pelos quais lutou por toda a vida. “O que estamos constatando é a inversão de valores, com gente responsável, individual e coletivamente, pregando a baderna e incentivando o desrespeito à lei”, cravou ele, num dos primeiros editoriais da Revista, mais atual do que nunca. 

Leia nessa edição – Em maio, Mês do Trabalho, Justiça & Cidadania ilustra a capa da edição com a entrevista concedida pelo novo presidente do Tribunal Superior do Trabalho, Ministro Emmanoel Pereira, que fala sobre os desafios impostos pela modernidade à Justiça Trabalhista e sobre as marcas que pretende deixar em sua gestão. Ainda sob o grande guarda-chuva temático do Trabalho, confira os artigos sobre o simbolismo do 1o de maio, sobre as prerrogativas da advocacia trabalhadora, sobre o combate ao assédio moral no ambiente de trabalho, anotações sobre o Direito do Trabalho no pós-pandemia e muito mais.

Confira ainda como foi a retomada da série Estudos Internacionais de Direito Comparado na cobertura completa do Seminário “França-Brasil: Desafios da Arbitragem”, realizado pela Revista em abril, na capital francesa.

A edição registra ainda a nossa tristeza pela passagem do Professor Dalmo de Abreu Dallari, membro da Confraria Dom Quixote e do nosso Conselho Editorial, que embora tenha vivido uma vida longa, plena e cheia de realizações, nos deixa órfãos do seu conhecimento e do seu olhar crítico em relação aos vícios e virtudes da nossa democracia.

Boa leitura!